Dorival Caymmi: músico que cantou sobre amores, cultura e costumes do povo tornou referência seu jeito de ser baiano

  • 30/04/2024
(Foto: Reprodução)
Artista faria 110 anos nesta terça-feira (30). Na data, g1 relembra quem foi o homem que devolveu à Bahia protagonismo cultural. 110 anos de Dorival Caymmi: 'O que é que o baiano tem?' “O que é o que baiano tem?”. É o que podem ter se perguntado nomes influentes na produção cultural do Rio de Janeiro quando, em 1938, conheceram Dorival Caymmi. Mas a resposta não demorou a chegar, já que o músico logo teve a carreira alavancada em terras fluminenses. 📱 NOTÍCIAS: Faça parte do canal do g1 Bahia no WhatsApp Tem música bonita, tem (tem!). Um samba de ouro, tem (tem!). E canta como ninguém. Certamente concluíram ao ver o talento do artista saído de Salvador, que viria a se tornar um dos principais representantes da Era do Rádio (entre as décadas de 1930 e 1950) na história da música brasileira. 'Caymmi - Um Homem de Afetos' chega ao circuito comercial com abordagens sobre a intimidade e as sombras do músico baiano Caymmi conquistou público a partir do sucesso cantado por Carmen Miranda no filme “Banana da Terra” (1939). Se consagrou com o samba-canção e fez de suas letras um retrato de costumes e comportamentos da vida cotidiana. Dorival Caymmi em entrevista recuperada para o documentário 'Um Homem de Afetos' Divulgação/Dorival Caymmi - Um Homem de Afetos Nesta terça-feira (30), data em que o cancioneiro faria 110 anos — Caymmi faleceu aos 94, em 2008 —, relembre fatos que ajudam a contar quem foi o músico que deu sua cara à chamada baianidade e devolveu à Bahia protagonismo. A poética de Caymmi Embora tenha retratado o mar em diversas composições, Caymmi mantinha uma relação à distância com as águas banhadas pelo Oceano Atlântico. Dorival Caymmi (à esquerda) é celebrado em samba-enredo cantado por João Gilberto em 1989 Reprodução / Acervo O Globo Para o filho Dori Caymmi, que comentou o assunto em entrevista ao programa “Conversa com Bial”, exibido em maio de 2022, o pai não tinha medo do mar. Sua postura continha respeito. “Minha jangada vai sair pro mar Vou trabalhar, meu bem querer Se Deus quiser, quando eu voltar do mar Um peixe bom, eu vou trazer Meus companheiros também vão voltar E a Deus do céu, vamos agradecer” Tal admiração foi transposta em faixas como “O Mar” e “Suíte dos Pescadores”, essa última uma de suas cinco canções mais executadas, segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). Canções mais executadas de Dorival Caymmi Mas Caymmi não se resumia a um espectador do modo de vida de terceiros. Para o jornalista especializado em Música, Marcelo Argôlo, o artista vivia o que compôs. “Era uma pessoa que tinha muita vivência”, defende em entrevista ao g1. “Ele não era simplesmente um observador, como [pintor] Carybé e [fotógrafo] Pierre Verger foram muito mais. Ele era um baiano formado a partir dos preceitos do candomblé e que tinha a sua vivência muito íntima com tudo que ele falava”. Caymmi era obá de Xangô ou, em outras palavras, um zelador da memória de seu santo. Como os demais homens de sua família, frequentava o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, em Salvador. São fatos assim que mostram o compositor de “Oração de Mãe Menininha” como parte integrante do universo retratado em suas letras. Dorival Caymmi em cena do documentário 'Um Homem de Afetos', de Daniela Broitman Divulgação / É tudo verdade Nesse sentido, a análise do professor Marielson Carvalho se assemelha a de Argôlo. Doutor em Literatura e Cultura, o docente fez da obra do músico sua dissertação de Mestrado, o que rendeu dois livros: “Acontece que eu sou baiano - identidade e memória cultural no cancioneiro de Dorival Caymmi” (2009) e “Caymmianos: personagens das canções de Dorival Caymmi” (2015), ambos publicados pela Editora da Universidade do Estado da Bahia (Eduneb). “Ele frequentava o bairro de Itapuã, ele convivia com os pescadores, com as marisqueiras. Então, esse ambiente praieiro fez com que ele se inspirasse e gostasse tanto que começou a fazer canções”, relata o estudioso. A baianidade de Caymmi Soma-se a essa vivência a leitura de Caymmi do que era a Bahia (mais especificamente Salvador e o recôncavo baiano) e ele passou a ser visto como representante maior da “baianidade”. Trata-se de uma suposta identidade que formaria o ser baiano — entre outras características, um indivíduo que curte praia, maresia e mistura religião e festividade no encontro entre o sagrado e o profano tão replicado em eventos como a Festa de Iemanjá e a Lavagem do Senhor do Bonfim, ambas manifestações populares cantadas pelo músico. “São Salvador Bahia de São Salvador A terra de Nosso Senhor Pedaço de terra que é meu” Mas essa mesma expressão também ganhou conotações negativas, associando os cidadãos à preguiça e expondo as raízes do racismo direcionado ao povo negro do estado. Dorival Caymmi e Carmen Miranda Acervo Museu Carmen Miranda/Cedido ao g1 Caymmi não compactuava com isso. O professor Carvalho lembra que o artista fazia questão de destacar que o baiano era muito mais do que ele conseguiu representar, e do que outros preconceituosamente definiam. De acordo com o especialista, esse “mito baiano” é anterior ao cancioneiro. O papel do “cantor das graças da Bahia”, como o definiu o amigo e escritor Jorge Amado, foi difundir o seu próprio modo de existir diante da imersão cultural no território. Jorge Amado e Dorival Caymmi Zélia Gattai “Ele não fez para que fosse modelo. Foi o jeito de viver dele”, comenta ao usar como exemplo a produção musical do artista, autor de pelo menos 156 canções em mais de 70 anos de carreira. “Era pra ter, nesse período, muito mais canções. (...) Mas o modo dele compor, criar, não era comercial. A indústria fonográfica, inclusive, quis ‘engolfar’ Caymmi, pedindo que ele lançasse todo ano um sucesso”. Extensa ou não, sua obra nunca fez qualquer menção à preguiça. Pelo contrário, como lembra Carvalho, “todos os personagens [das músicas] trabalhavam”. “Caymmi mostra nas suas canções justamente essa imagem de uma Bahia que trabalha e que festeja”. O homem e suas musas Outro exemplo da transformação de experiências em letras são os romances. Casado com a ex-cantora Adelaide Tostes, conhecida como Stella Maris, Caymmi se mostrou também um homem de seu tempo na relação com as mulheres. Dorival Caymmi na foto do primeiro cartaz do documentário ‘Dorival Caymmi – Um homem de afetos’ Divulgação Não se sabe se as Marinas e Doras de suas canções eram personagens reais ou apenas fruto da inspiração. Porém, em depoimentos para o documentário “Um Homem de Afetos”, que estreou nos cinemas na última quinta-feira (25), os filhos admitem que houve casos. “Só louco Amou como eu amei Só louco Quis o bem que eu quis Oh! Insensato coração” Em uma passagem, a cozinheira Cristiane de Oliveira, que trabalhou na casa da família, lembra que a ex-patroa chegou a se aproximar de uma amante do marido. Stella teria surpreendido Caymmi com um jantar entre os três. “Quando ele chegou, ela falou: ‘Agora você escolhe. Ou ela ou eu’”. A escolha todo mundo sabe. Os pais de Nana, Dori e Danilo, que se conheceram no final da década de 1930, na Rádio Nacional, conforme conta a neta Stella Caymmi em “O que é que a baiana tem? - Dorival Caymmi nas ondas do rádio” (Ed. Civilização Brasileira, 2013), seguiram juntos e parceiros até o fim da vida — ela internada em um hospital, ele padecendo em casa. Assim, o principal romance do compositor chegou ao fim apenas com a morte. A dele em 16 de agosto de 2008, a dela 11 dias depois. Sem que um soubesse da partida do outro. “Eu não fico triste. Curei disso muito cedo. Entristecer, arrepender... [Quando isso acontece] Eu mudo de rumo, então tem que policiar os sentidos e fazer um arejamento assim bonito e não se deixar contaminar pelo ruim”. A citação acima foi dita pelo próprio Caymmi à apresentadora Regina Casé e exibida posteriormente no programa “Esquenta”, em julho de 2014. Reflete a sabedoria e a serenidade de quem traçou uma longa trajetória, deixando um importante legado cultural. Foi o “Buda Nagô”, como descrito por Gilberto Gil. Veja mais notícias do estado no g1 Bahia. Assista aos vídeos do g1 e TV Bahia 💻

FONTE: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2024/04/30/dorival-caymmi-110-anos-referencia-baiano.ghtml


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